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Arte, musica, video e pensamentos

E a MPB, como vai?

“Um ensaio comparativo sobre a produção musical popular contemporânea”

Artigo de conclusão de curso pós graduação em Metodologia do Ensino de Artes, UNINTER, 2019

SILVA, Gustavo Afonso Mutran da[1]

SULZBACH, Â. C.[2]

RESUMO

Este trabalho aborda a influência da era pós-revolução da informação no consumo musical hodierno. A razão que motivou essa temática é a de verificar quão verídica seria a afirmação de um artista, feita numa midia social, sobre a qualidade da música contemporânea do Brasil. Tal afirmação vai ao encontro de uma idéia recorrente ao senso comum que trata de uma possível desvalorização qualitativa da produção musical atual em comparação aos autores do passado. Os objetivos específicos são pesquisar a origem do senso comum; apresentar pesquisas relativas ao comportamento dos objetos inanimados e seres vivos, quando expostos a determinados tipos de musica e som; elencar as mudanças sofridas na fruição musical da era pós-revolução da informação; avaliar o nascimento dos artistas de nicho, temáticas, composições e comportamento, assim como seu impacto social. A contribuição da presente pesquisa é a de fornecer conteúdo capaz de auxiliar na formação de ouvintes mais críticos ao consumo das produções musicais de hoje e de ontem. A hipótese é de que música, longe de ser somente gosto pessoal, é energia capaz de moldar comportamentos. A metodologia adotada foi a pesquisa bibliográfica, em que o autor Reinhart Koselleck versa sobre o anacronismo, a autora Dorothy Retallack contribui com a reação das plantas aos variados estilos musicais, Johnatan Pieslak trata dos efeitos do heavy metal na guerra do golfo e Heitor Castro contrapõe música em estado puro com música produto.

Palavras-chave: MPB; Música Brasileira; Era da Informação; Funk.


[1] Graduado no Curso de Pintura da Escola de Belas-Artes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Professor de Pintura e Desenho da Casa de Cultura da Universidade Estácio de Sá, aluno do Curso de Especialização em Metodologia no Ensino de Artes pelo Centro Universitário Internacional UNINTER; É Artista Plástico e Multimídia, Compositor e Músico Prático.

[2] Graduada em Educação Artística habilitação em Artes Cênicas pela Universidade Estadual do Paraná- FAP/UNESPAR; Possui Especialização em Cinema e Vídeo pela Universidade Estadual do Paraná – FAP/UNESPAR; Mestre em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná – UTP; Professora Efetiva na disciplina de Arte SEED – PR Núcleo Curitiba; Professora orientadora de TCC do curso de Pós-graduação em Metodologia do Ensino de Artes e professora corretora de TCC e Relatório de Estágio Supervisionado do curso de Graduação em Artes Visuais EAD – UNINTER.


1. INTRODUÇÃO

A presente pesquisa parte do argumento de que a música brasileira feita antigamente era de melhor qualidade do que a música produzida atualmente, seja por razões de valores estéticos, como por razões de conteúdo.

O trabalho está dividido em duas partes, a saber:

I.        Sobre a possibilidade de mensurar música qualitativamente e sua influência nos seres para alem da subjetividade do gosto pessoal;

II.        Sobre a forma de criação e fruição de música na era pós-revolução da informação;

Primeiramente, identificaremos as razões que conduzem à primeira afirmação, quem afirma e por quê. Em seguida, verificaremos os substratos de tal senso comum e qual a possibilidade dele ser mensurado de forma objetiva, buscando as informações pertinentes nos variados campos do saber humano. Neste processo, confrontaremos pesquisas relativas aos efeitos que operam nos seres vivos os diversos tipos de música e sons.

Em seguida, será avaliado o impacto da revolução da informação na produção e no consumo da musica brasileira contemporânea, o surgimento e a recente popularização do chamado “artista de nicho”.

Após, serão dadas as considerações finais e a conclusão do presente artigo.

Foram utilizados como fonte de pesquisa a ferramenta Google Acadêmico, a Scielo Scientific Electronic Library Online, vloggers e sites da internet, assim como livros eletrônicos e físicos.


2. QUE FASE, HEIN LULU?

No dia 18 de dezembro de 2017, o cantor e compositor Lulu Santos escreve em seu Twitter a seguinte frase:

SANTOS, Lulu. Caramba! É tanta bunda, polpa, bumbum granada e tabaca que a impressão que dá é que a MPB regrediu pra fase anal. Eu, hein? Rio de Janeiro, 18 de dez. 2018, 7:57 a.m. Twitter: @lulusantos. Disponível em:

http://twitter.com/LuluSantos/status/942710351795249153?s=19. Acesso em: 19 de out. 2018.

Essa declaração vai ao encontro do sentimento de uma camada da população que, de forma semelhante, também partilha a idéia que a música brasileira involuiu, ou ainda, de que se fazia música de melhor qualidade em um passado não tão distante. Para termos uma rápida impressão da abrangência do assunto, ao digitarmos no campo de pesquisa Google “a música brasileira esta ruim?”, obtivemos aproximadamente 8.640.000 (oito milhões, seiscentos e quarenta mil) resultados em 0,42 segundos.  Para tags semelhantes que aparecem junto à pesquisa, os números impressionam, como “música brasileira hoje” – aproximadamente 55.000.000 resultados em 0,62 segundos; “a decadencia da música brasileira” – aproximadamente 15.800 resultados em 0,40 segundos; “lixo musical brasileiro” – aproximadamente 3.850.000 resultados 0,34 segundos. Logo, uma declaração como essa feita por um artista amplamente reconhecido em todo território nacional, ícone da música popular brasileira ao longo de quase 40 anos, é mais comum do que se imagina, sendo a única diferença o fato de ela ter vindo das pontas dos dedos de alguém que faz parte do establishment[3], de quem conhece os intestinos da MPB.

Normalmente, quando ocorre um comentário dessa natureza, é natural que tal afirmação seja associada a sentimentos considerados anacrônicos, relacionados a choques entre gerações, oriundos de diferenças de ordens variadas que sempre existiram na história humana e são comumente expressos há milênios, desde que a escrita foi inventada[4].

Segundo o Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa Michaelis, o anacronismo traduz-se por erro cronológico, expressado na falta de alinhamento, consonância ou correspondência com uma época. Ocorre quando pessoas, eventos, palavras, objetos, costumes, sentimentos, pensamentos ou coisas que pertencem a uma determinada época são erroneamente retratados noutra época, por outra perspectiva. Assim, existe certa nostalgia de um modo geral no ser humano, quando pensamos no passado, uma memória afetiva em relação aos acontecimentos, às coisas enfim. Segundo estudiosos como Peter Burke, foi somente na época da Renascença que ocorre uma identificação do que é antigo e que passaremos a ter uma delimitação entre o presente e o passado e sobre como olha-lo com uma visão mais acurada, como podemos observar no texto:

Portanto, podemos dizer que os humanistas consideravam o passado – antigo e medieval – como qualitativamente diferente do presente e não como ciclo repetitivo. No que diz respeito a sua relação com a antiguidade, podemos falar da existência de uma ‘distância nostálgica’, um reconhecimento da diferença entre as épocas, ao mesmo tempo em que há uma certa dose de admiração e um desejo de destruir essa diferença. (BURKE, 2013, pp. 196-197).

Se, por um lado na Atenas de Platão do séc. VI a.C. já se mencionava os confrontos entre gerações, por outro é interessante ressaltar que até a renascença não haviam registros mais aprofundados sobre temas que abordassem as perspectivas históricas sobre a passagem do tempo e suas consequencias no modo de vida das pessoas. Ao homem medieval, por exemplo, parece ter sido muito comum pensar que o mundo havia sido o mesmo desde sempre e que, apesar dos choques de geração comumente terem existido, uma questão não era associada à outra. Conceitos como distanciamento histórico, percepção histórica, distanciamento irônico, dentre outros, passaram a proliferar após o renascimento no vocabulário dos pesquisadores do passado e foram aprofundados pelos historiadores de arte alemães, como Warburg, Saxl e Panofsky (BURKE, 2013) que trataram do tema no século XX, onde foi observado que o anacronismo é uma tendência natural no ser humano.

No caso da declaração abismada de Lulu Santos em relação à temática das músicas, Reinhart Koselleck a classificaria como uma declaração oriunda da experiência, que o autor chama de passado atual, pois o artista ainda goza de suas faculdades mentais e pode lembrar-se de um tempo em que se fazia música antes da fase anal, algo que também pode ser compartilhado pelas experiências de seus ouvintes:

A experiência é o passado atual, aquele no qual acontecimentos foram incorporados e podem ser lembrados. Na experiência se fundem tanto a elaboração racional quanto as formas inconscientes de comportamento, que não estão mais, ou que não precisam mais estar presentes no conhecimento. Além disso, na experiência de cada um, transmitida por gerações e instituições, sempre está contida e é conservada uma experiência alheia. (KOSELLECK, 2006, pp. 309-310).

A grande diferença da exclamação de Lulu em relação às outras, reside no fato dela ter sido compartilhada por quem tem conhecimento de causa, externando o espanto e desconforto que certas expressões e manifestações mais explícitas, antes de alcance restrito ou direcionado, tenham explodido nas diversas midias, mainstream e aquém. A música, sendo a reunião perfeita entre razão e sensibilidade, matemática pura mais emoção, nos permitiria identificar, talvez, os meios para que ela possa ser mensurada na esfera da sua construção exata, em sua fisicidade, com a finalidade de obtermos uma resposta satisfatória.

A máxima de Sócrates[5], que trata de sua própria ignorância, nos permite sonhar, e olhando para a intimidade daquilo que consideramos físico, mensurável, exato, somos forçados a reconhecer na imanência das leis, a transubstanciação conceitual da própria matéria:

Nesta sofisticada era científica, muitos de nós sabemos que toda matéria é simplesmente uma forma de energia, de certos tipos de ondas e vibrações pulsantes. Ao observar as ondas que banham a costa, somos lembrados de que o físico francês Louis de Broglie achava que havia um padrão de ondas em cada átomo. Portanto, de acordo com essa teoria, subjacente a todas as ondas eletromagnéticas visíveis e invisíveis, ondas sonoras ouvidas e inéditas, ondas gravitacionais sentidas e não sentidas, há ainda outro vasto e misterioso oceano de ondas de partículas atômicas. É dentro e através dos padrões em constante mudança desta ressaca atômica que a química fundamental e a física da nossa vida – e de fato toda a vida é expressa (RETALLACK, 1973, pp. 9-10).

De acordo com a citação da obra de Dorothy Retallack, The Sound of Music and Plants[6], a música, antes de tudo é vibração, assim como tudo no universo, e desde sempre essa vibração foi utilizada para diversos fins na história da humanidade, desde fins religiosos até belicosos, passando também pelo puro hedonismo e joie de vivre. Existe inclusive um caso lendário que junta ao menos duas dessas finalidades, a belicosa e a religiosa, que é o das Trombetas de Jericó[7]. Deste exemplo, podemos inferir que já existia naquela época recuada algum conhecimento sobre os desdobramentos físicos da lei da ressonância[8], a ação do som nos objetos sólidos. Tendo em vista que tudo o que existe vibra em uma determinada frequência, tornando-se assim o campo da física um primeiro e grande sinalizador para uma determinada aferição qualitativa dos estilos musicais e/ou de energia, e suas influencias no meio.

No experimento de Dorothy Retallack, de 1973, intitulado Response of growing plants to a manipulation of their sonic environment[9] a pesquisadora atesta cientificamente que o cultivo de plantas de petúnia, feijão, milho e abóbora, respondem de forma consistente pela direção do crescimento do caule, pelo peso da raiz seca e pelo peso seco do caule, a categorias contrastantes de fontes sonoras musicais. Experimentos em condições específicas, idênticas e controlados foram realizados simultaneamente em três câmaras ambientais, produzidas pela Lab Line Instruments. As observações da resposta da planta foram feitas e medidas em cada uma delas para fins de comparação e cada câmara foi equipada para fornecer combinações programadas de energia luminosa de fontes incandescentes e fluorescentes e ajustadas para 8 horas de luz a cada 24 horas ao longo de 21 dias, gerando reações aos tipos contrastantes de energia/estilo musical (ver anexo A, ao final do artigo).

Para fins de teste, quatro categorias arbitrariamente definidas de música foram decididas:

I.        Categoria I: Orglelbüchlein de Bach e Sounds of India de Ravi Shankar;

II.        Categoria II: Partes do album de acid rock Led Zeppelin II, da banda Led Zeppelin; The Break Song da banda Vanilla Fudge e Band of Gypsies de Jimmy Hendrix;

III.        Categoria III:  Foi composta por orquestração desprovida de percussão. incluem trechos de Spanish Eyes de Earl Grant e La Paloma tocados em cordas, piano, órgão e clarinete. Clássicos contemporâneos também estão nessa categoria;

IV.        Categoria IV: Foi composta 100% por percussão, incluiu La Paloma tocada inteiramente por tambores de metal africanos e porções de Persistent Percussion.

As plantas foram fotografadas durante o processo, apresentando significativas e diferentes alterações quanto ao crescimento e desenvolvimento do caule, raízes e folhas, numa clara resposta aos variados estímulos sonoros, onde pôde ser observada a inclinação das hastes a favor ou contra os alto falantes, de acordo com o tipo de música utilizado e, no sentido geral, a música erudita de Bach e a oriental de Ravi Shankar tiveram uma resposta muito satisfatória das plantas expostas ao experimento.

A partir dessa pesquisa[10], muito foi acrescentado ao conhecimento científico sobre as plantas e suas reações aos estímulos e estilos musicais. Ocorreram a partir de então, desde estudos mais aprofundados e discussões sobre a inteligência das plantas[11], assim como aplicações práticas em vinhedos italianos para a melhoria da qualidade das uvas, obtendo resultados comprovados pelas vendas, o intitulado vinho fonobiológico[12], até plantações de frutíferas e hortaliças que ‘ouvem’ peças clássicas duas vezes ao dia[13].

Além das aplicações citadas na agricultura e na economia, os desdobramentos dos estudos da norte-americana continuam ampliando a busca pelo conhecimento da influência das ondas na vida dos seres animados ou inanimados, espargindo-se em diversas áreas do conhecimento humano.

É no campo da Mecânica Quântica, que versa sobre o comportamento de partículas subatômicas, que encontraremos os postulados com respaldo científico teórico que possuem ampla aceitação na comunidade científica:

Ramo da ciência não será a expressão adequada, pois a Mecânica Quântica constitui, hoje em dia, a base de toda a ciência. As equações descrevem o comportamento de objetos muito pequenos – digamos de dimensões iguais ou inferiores às atômicas – e constituem a única fonte de conhecimento de mundo microscópico. Sem estas equações, os físicos teriam sido incapazes de planejar centrais nucleares (e bombas nucleares), construir lasers ou explicar por que razão o sol se mantém quente. Sem Mecânica Quântica a Química ainda estaria na Idade Média e a Biologia Molecular – conhecimento do DNA, engenharia genética, e tudo o resto – não existiria (GRIBBIN, 2004).

As respostas científicas da física aos estudos das partículas subatômicas apresentaram ao homem do contemporâneo um vasto multiverso de realidades. Uma das maiores questões dos séculos XX e XXI no campo da física encontra-se na teoria de Schrödinger, físico austríaco que ficou famoso pelo seu gato morto-vivo.

Também é possível construir casos muito burlescos. Imagine um gato trancado em uma sala de aço junto com a seguinte máquina infernal (que deve ser protegida do ataque direto do gato): Uma pequena quantidade de material radioativo é colocada dentro de um contador Geiger, tão pequena que durante uma hora talvez um de seus átomos decai, mas igualmente provável nenhum. Se ele se deteriorar, o contador é acionado e ativa, por meio de um interruptor, um pequeno martelo que quebra um recipiente de ácido prússico. Depois que este sistema foi deixado sozinho por uma hora, pode-se dizer que o gato ainda está vivo desde que nenhum átomo tenha decaído no tempo médio. O primeiro decaimento de um átomo teria envenenado o gato. Em termos da função-y de todo o sistema, isso é expresso como uma mistura de um gato vivo e um morto. (SCHRÖDINGER, 1935, p.9).

Segundo os teóricos que aceitam a versão pura da Mecânica Quântica, o gato existe num estado indeterminado que não é vida nem é morte, até que um observador olhe para dentro do caixote. Nada é real se não é observado. Se Retallack comprovou que diferentes tipos de música afetam o crescimento das plantas, os físicos modernos dizem que a realidade é aquilo que prestamos atenção, pois fora isso, a matéria se mantém apenas potencialmente em possibilidades.

Conforme vimos, música também é ciência, energia e possui efeitos físicos nos objetos e seres. Tais efeitos são utilizados e podem ser mensurados no comportamento dos seres vivos e inanimados, fato que ocorre desde a antiguidade até os dias de hoje.

Nas guerras eletrônicas do Golfo Pérsico[14], soldados americanos munidos de música em mp3 no campo de batalha, ao som de Death Metal, eram remetidos a um ambiente de videogame, dessa forma, segundo Pieslak, os combatentes tornam-se mais focados com o nível de precisão, agressividade e autocontrole considerados corretos às missões.

Situada do outro lado do espectro sonoro, existe uma gama variada de aplicações benéficas, como a musicoterapia, largamente utilizada em todo o mundo para o tratamento de bebês prematuros.

Através do ritmo e do som a música age sobre o sistema motor e sensorial enquanto, através da melodia, componente básica da música, é atingida a afectividade (cf. Ducourneau,1984, p. 59) e por isso mesmo, devemos compreender o instrumento da musicoterapia como um processo construído por distintos componentes que se interrelacionam entre si e modificam diferentemente o estado do indivíduo. A prática da musicoterapia “não trata de formar artistas, e sim de utilizar a música” (Ducourneau, 1984, p. 33) com uma finalidade salutogénica (OLIVEIRA; GOMES, 2014, p.762).

A aplicação da música atrelada às nossas emoções e pensamentos está em nosso uso diário, onde a direcionamos e também somos direcionados por ela a diversos estados de ânimo. Entendemos que esses estados se expandem para além do campo humano, portanto, diante da imensidão do cosmos musical, é preciso procurar entender o que levou a música brasileira a ficar restrita à “tanta bunda, polpa, bumbum granada e tabaca”, conforme a exclamação de Lulu Santos.

Verificaremos no próximo tópico, como a revolução tecnológica mudou o modo de fazer e pensar música.


3] Palavra de origem inglesa e incorporada à linguagem culta brasileira que significa “grupo de indivíduos com poder e influência em determinada organização ou campo de atividade”, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 2001.
[4] “É que o pai habitua-se a ser tanto como o filho e a temer os filhos, e o filho a ser tanto como o pai, e a não ter respeito nem receio dos pais, a fim de ser livre… O professor teme e lisonjeia os discípulos, e estes têm os mestres em pouca conta…” Veja PLATÃO – A República, Livro VIII. Trad. Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa, 1987, p.394.
[5] “Então, pus-me a considerar, de mim para mim, que eu sou mais sábio do que esse homem, pois que, ao contrário, nenhum de nós sabe nada de belo e bom, mas aquele homem acredita saber alguma coisa, sem sabê-la, enquanto eu, como não sei nada, também estou certo de não saber. Parece, pois, que eu seja mais sábio do que ele, nisso ainda que seja pouca coisa: não acredito saber aquilo que não sei.” Veja PLATÃO – Apologia de Sócrates, parte I, VI. Trad. Grupo Acrópolis. Pará de Minas, 2003, p.8.
[6] A autora expõe de forma científica suas pesquisas sobre as reações das plantas à exposição de notas musicais contínuas e de estilos musicais diferentes que vão de Led Zeppelin a Bach (RETALLACK, 1973).
[7] No Livro de Josué, os israelitas destruíram o muro de Jericó no sétimo dia de cerco após tocarem trombetas de chifre de carneiro e gritarem para o muro cair. Os eventos sugeridos datam de cerca de 1400 a.C. (A BÍBLIA, 1850, p.228).
[8] “Em 7 de novembro de 1940, a ponte suspensa sobre o Estreito de Tacoma, nos Estados Unidos, apenas 4 meses depois de ter sido aberta ao tráfego, foi destruída durante um forte vendaval. A ponte apresentava um comprimento total de 1530 m, com um vão central de 850 m. Inicialmente, sob a ação do vento, o vão central pôsse a vibrar no sentido vertical, passando depois a vibrar torsionalmente, com as torsões ocorrendo em sentidos opostos nas duas metades do vão. Uma hora depois, o vão central se despedaçava. Tal acontecimento não foi devido simplesmente à força do vento que, na manhã do desastre, soprava com a velocidade de aproximadamente 68 km/h, insuficiente, por si só, para destruir uma ponte solidamente construída. O desastre realmente ocorreu devido a um fenômeno fisico conhecido como ressonância.” (YONEDA, 1982, p.7).
[9] Resposta das plantas em crescimento à manipulação de seu ambiente sonoro (RETALLACK, 1973).
[10] Desde a antiguidade o homem conhece intuitivamente o efeito da música nos seres vivos e do som nos objetos inanimados, mas foi no século XX, entretanto, que estudiosos como Bose (1906), Singh (1965), Weinberger (1968) e Backster (1968) debruçaram-se de forma científica sobre o tema (RETALLACK, 1973).
[11] CALVO, 2016.
[12] SITE G1 – Jornal Nacional. Música clássica é usada para melhorar qualidade de vinhos na Itália. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2012/10/musica-classica-e-usada-para-melhorar-qualidade-de-vinhos-na-italia.html> Acesso em: 22 de outubro de 2018.
[13] VIDIGAL, Luciane – EM. Agricultores apostam em música clássica para melhorar cultivo de plantas. Disponível em:<https://www.em.com.br/app/noticia/economia/2014/08/04/internas_economia,554960/agricultores-apostam-em-musica-classica-para-melhorar-cultivo-de-plantas.shtml> Acesso em: 25 de outubro de 2018.
[14] No livro “Sound Targets: American Soldiers and Music in the Iraq War” (Alvos sonoros: soldados americanos e a música na Guerra do Iraque), o autor Jonathan Pieslak, teórico da música do City College de Nova York, analisa a relação entre os militares e a música durante a invasão do Iraque e constata a predominância do Heavy Metal entre o estilo preferido dos militares norte-americanos em combate e missões, algo notado mesmo entre os soldados negros (WILSON, 2012).


2.3 TEMPOS MODERNOS[15]

Em 2017, numa entrevista para o programa Ritmo Brasil da RedeTV!, a cantora Sandy declara: “Já fui ‘mainstream’, fui número, vendi três milhões de discos, lotei o Maracanã e era legal. Só que hoje gosto de ser assim, uma artista um pouco menor, quase de nicho, digamos ”[16].

Muito recentemente, a expressão artista de nicho tornou-se comum na boca de artistas e pessoas do meio musical, como no caso do exemplo acima. Para uma melhor compreensão do termo, será necessário recuarmos ao início daquilo que ficou conhecido como Revolução da Informação.

Cada onda de revolução tecnológica-industrial ocorrida na história possui um impacto profundo na vida das sociedades humanas e nas artes, pois nela ocorre a substituição de um trabalho que antes era feito ou operado por um ser humano, por um trabalho realizado por uma nova tecnologia, visando trazer rapidez ao processo e melhores resultados. Na segunda revolução industrial, a forma de fazer arte na Europa é influenciada pela tecnologia de forma peculiar, pois o famoso movimento impressionista nas artes só pôde ocorrer por causa da invenção da máquina fotográfica por Daguerre, que apresentou ao mundo a primeira câmera fotográfica em 1839[17]. Isso fez com que os artistas realistas e retratistas concorressem com a fotografia num primeiro momento, mas como a foto possuía um custo muito menor do que os honorários de um pintor, precisaram repensar as funções da pintura, buscando novos rumos. Segundo Paiva, tais artistas haviam perdido sua função econômico-social, e prossegue:

Se pensarmos na estrutura da indústria cultural neste seculo, veremos que a desvalorização se faz presente em praticamente todas as atividades artísticas, acentuando-se sobremaneira após o surgimento da eletrônica e da tecnologia digital. Como exemplos clássicos de instrumental tecnológico utilizado, na maioria das vezes, com a unica função de substituir o artista, encontraremos os sintetizadores, samplers e gravadores digitais. Tais equipamentos substituem o musico enquanto instrumentista, sendo amplamente utilizados na produção fonográfica mundial para executar sons que poderiam ser realizados por qualquer instrumentista de nível mediano (PAIVA, 1992, p.65).

Parece ser um padrão das revoluções tecnológicas a perda de função econômico-social dos artistas, não importando o século.

Essa temática da substituição do homem pela máquina teve na sétima arte uma obra-prima intitulada Modern Times, onde pudemos ver uma forte crítica às consequências da Revolução Industrial no comportamento humano, a exploração do operário da indústria, as consequentes neuroses e impactos sociais. Desde então, a estreita relação entre as máquinas e a progressiva celeridade da vida moderna é tema de crítica nas artes, gerando a contagiante sensação de que tudo poderia ser feito em menos tempo, de forma mais rápida e eficaz, mudando mesmo a noção de realidade dos habitantes da urbe, caracterizando assim um dos impactos da segunda revolução industrial[18] nas sociedades humanas.

Nas últimas três décadas do século XX começou a terceira fase da Revolução Industrial, conhecida como Indústria 3.0, quando processos eletrônicos e tecnologias de informação para automação foram introduzidos no dia a dia. Segundo alguns autores, seu impacto só pode ser comparado à invenção da imprensa por Gutemberg, pois se apresenta tão transformadora quanto. Sobre os efeitos dessa Revolução na música, Paiva identifica a massificação como decorrência da influência da tecnologia na produção e execução musical, o músico e seu instrumento não representam mais o centro daquele mundo que faz música, assim como o pintor realista da segunda metade do século XIX precisou ceder espaço à máquina fotográfica e adaptar-se aos novos tempos.

Sobre a adaptação dos artistas contemporâneos, Heitor Castro[19], criador da rede EAD Mais Que Música, músico e premiado vlogger, teoriza, em uma videoaula intitulada “Por que a música está uma merda”[20], algumas relações pertinentes entre tecnologia e música, que passaremos a expor:

I.        Música pessoal x música impessoal: antes de 1877 não havia mecanismo de reprodução em massa do som. O fonógrafo de Thomas Edson não havia ainda sido inventado, muito menos o famoso gramofone de Berliner. Segundo o autor, a música existia pela música mesmo, não havia nenhum culto ao autor, mesmo podendo ser Beethoven, Bach ou outros compositores que estivessem sendo executados por uma orquestra. A atual Revolução da Informação traz, num sentido inverso, o culto à personalidade.

II.        O humano sinestésico: A Revolução da Informação deu vazão ao surgimento do humano sinestésico. Na sinestesia os sentidos se misturam, cor é som, som pode ser gosto etc. Assim, a opinião sobre qualquer novo artista é formada por diversos fatores, além do conteúdo musical, a saber:

– Atitude, performance de palco;

– Nicho e representatividade;

– Imagem, sendo pela beleza ou pelo burlesco.

III.        O excesso de informação: O excesso de informação sobre artistas que se encontra disponível dos diversos canais de informação resulta em um comportamento do ouvinte, que se traduz pela necessidade de:

– Atalhos de julgamento para formação de opinião;

– Atenção gerada pelo menor esforço.

IV.        A temática rasa: Na busca pela atenção, dentre as diversas temáticas abordadas pelos artistas, como política, existencialismo/espiritualidade, amor (romantismo) e sexo, é o sexo que atinge a maior parte da população, assim, a busca pela apreensão mais rápida da atenção do espectador/ouvinte traduz-se pela temática rasa que redunda em sexo e violência, os instintos primários do homem.

V.        Declínio da capacidade musical da massa artística: Se em outros tempos o artista precisava saber compor e cantar, com o advento da Revolução da Informação, isso não é mais necessário devido às ferramentas que se encontram à mão, como bases sampleadas, cadências e sequências musicais pré-programadas em softwares específicos. As linhas melódicas podem atualmente todas serem feitas no auto-tune ou melodyne, softwares específicos para afinação de voz. Assim, qualquer pessoa pode hoje produzir entretenimento musical sem ter conhecimento musical e preocupação com a qualidade do trabalho.

VI.        Mundo disperso e raso: Todos querem saber de tudo um pouco, ao tempo em que não se aprofundam, igualando assim o consumidor do grande entretenimento sonoro que se tornou a música à massa que produz música atualmente.

Sobre o processo de criação da nova massa crítica artística, aceleração e volume de informação trocados na rede, Cavalcante & Pinezi complementam o expositor:

E é justamente no contexto das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação que se encontra em debate a forma de se fazer e pensar a música, uma vez que essa também mudou e está mudando em razão dos adventos tecnológicos (tais como o ciberespaço, os novos suportes de reprodução de mídia, os novos formatos de mídia etc.). Com o aumento da velocidade de acesso à Internet, criou-se um ambiente de troca de informações veloz e barato. Assim, a propagação musical se dá de forma intensa no ciberespaço, fato esse que pode ser entendido como fruto da globalização tecnológica e cultural (CAVALCANTE; PINEZI, 2014).

As tendências da globalização, apelidada de “glocalização” por Philippe Quéau, e o acesso às novas tecnologias, foram grandes responsáveis pelo aparecimento dos artistas de nicho “[…] Diferentes tipos de globalizações (financeira, econômica, tecnológica) florescem ao mesmo tempo e acompanham o desenvolvimento da sociedade ”global” da informação, que, por sua vez, facilita a globalização […]” (QUÉAU, 1989). Para o autor, não existe um interesse real na diminuição das diferenças, mas sua acentuação.

As “globalizações” da cultura, da sociedade, da política e da ética permanecem ainda na retaguarda. As globalizações se traduzem em “relativismo” político, ético, cultural. Em vez de promover valores universais, e a universalidade como um valor, a globalização parece encorajar o relativismo (QUÉAU, 1989, p.199).

Transpondo essa acentuação das diferenças ao nosso universo musical local, podemos notar como isso se tornou um facilitador para os aparecimento dos artistas de nicho, daquele que é diferente por ser igual ao espectador, quer seja por representar uma classe, uma orientação sexual, uma cor de pele. E o público, fatiado em segmentos, passa a se identificar com esse ou aquele artista que lhe parecer mais próximo, ou o que for mais impactante, usando o atalho de julgamento citado por Heitor Castro. Tais valores nada têm a ver com música em si, mas sim com o pacote do Entretenimento Sonoro do século XXI, um produto de consumo rápido e imediato. Entretanto, em oposição ao produto raso, a música profunda, avançada, é de ordem abstrata, podendo ser ela erudita ou não, e sua apreciação demanda tempo do ouvinte para um mergulho naquele universo sonoro. Segundo comprovações científicas[21], este mergulho altera o estado de consciência do ouvinte, cabendo aqui uma frase atribuída ao guitarrista e compositor Jimmy Hendrix que diz que music is a safe kind of high [22]. Por fim, Castro revela que a mercadoria mais importante da Revolução da Informação é a atenção das bilhões de pessoas que buscam o entretenimento sonoro, superando o valor da commodity do petróleo.  O expositor conclui que a qualidade musical brasileira da atualidade, e do mundo, é uma consequência do atual jeito de viver das pessoas, sua relação com o tempo e com a tecnologia ao seu redor.

Retornando ao início do tópico, para a cantora Sandy, ser artista de nicho representaria algo menor e, para quem já lotou estádios numa outra época como uma representante do mainstream, poderia ser mesmo. Porém, o que ocorre atualmente é que são os artistas de nicho, como Pablo Vittar e Jojo Toddinho, por exemplo, os representantes de comunidades, de grupos, incluindo aí comunidades e grupos de midias sociais, sejam eles LGBT ou raciais, os verdadeiros focos das atenções do Entretenimento. No lastro dessas transformações, a antiga máfia, a intelligentsia, mais outras figuras do mainstream e da industria fonográfica, numa verdadeira inversão do modus operandi pois, sentindo-se em apuros pela perda da hegemonia, passaram a incensar os pop-ups dos guetos, como o caso  de Tom Zé, que ensina que o funk carioca é interessante musicalmente, através de Tô ficando atoladinha, que é um “metarefrão microtonal e plurissemiótico“.


[15] Referência ao filme Modern Times, que ficou conhecido no Brasil e em Portugal por Tempos Modernos, obra do cineasta e ator britânico Charlie Chaplin que trata da aceleração da vida e desumanização do homem devido a Revolução Industrial. Título original: Modem Times. Preto em Branco. Legendado. Duração: 87 min. Warner, 1936.
[16] SITE Folha de São Paulo – Celebridades. Já fui mainstream, hoje gosto de ser assim, uma artista um pouco menor. Disponível em: < https://f5.folha.uol.com.br/celebridades/2017/06/ja-fui-mainstream-hoje-gosto-de-ser-assim-uma-artista-um-pouco-menor-diz-sandy.shtml&gt; Acesso em: 23 de outubro de 2018.
[17] SITE Cameras Antigas – A Câmera Fotográfica…Como surgiu? Disponível em: < http://www.camerasantigas.com.br/a_camera_fotografica_como_surgiu.htm&gt; Data de publicação: Terça, 21 de novembro de 2001, 18h17.  Acesso em: 28 de outubro de 2018. Link atualizado em 26/08/2019: https://fotografiamais.com.br/maquina-fotografica-antiga/
[18] SILVA; GASPARIN, 2014.
[19] Formado em Informática pela PUC/RJ, estudou no GIT (Guitar Institute of Tecnology) em Los Angeles, California. Disponível em: <https://www.maisquemusica.com.br/heitor-castro-guitarra-violao-aulas-escola-de-musica/> Acesso em: 09 de novembro de 2018.
[20] Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=XiJE_Me7sFY&t=54s> Acesso em: 12 de novembro de 2018.
[21] CLYNES, 1982.
[22] Em tradução livre: música é um tipo de barato seguro. Por “barato”, entenda-se estado alterado de consciência.


3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na primeira parte, “Que fase, hein Lulu?”, partindo de uma interjeição de um artista renomado da MPB que reflete um senso comum, pudemos caminhar pelos temas decorrentes que se encadearam de forma orgânica, dos quais são mencionados:

1.1     O entendimento sobre anacronismo e distanciamento histórico (BURKE, 2013 e KOSELLECK, 2006);

1.2     Os efeitos dos variados tipos de música nos seres vivos e inanimados (CLYNES, 1982; RETALLACK, 1973; WILSON, 2012;);

1.3     Tudo é energia e a realidade é pensamento – mecânica quântica (GRIBBIN, 2004, SCHRÖDINGER, 1935).

Na segunda etapa “Tempos modernos” pudemos compreender os impactos da terceira revolução industrial, chamada de Revolução da Informação, de onde ressaltam os tópicos:

3.1.    Toda revolução tecnologica causa impacto nas artes, positivos e negativos (CAVALCANTE; PINEZI, 2014);

3.2.    A massa artistica encontra-se menos qualificada musicalmente devido ao acesso à tecnologia e às facilidades tecnológicas;

3.3.    A música é mais entretenimento do que arte nos dias de hoje e quanto mais pura a musica, maior a atenção a ser depositada nela (CASTRO, 2018).

Com agradável surpresa, encontramos nos estudos de Retallack um primeiro impulso a ser dado na compreensão da música como vibração. Após, música em hospitais e clínicas, música para eutanásia, música para a guerra, música para as plantas e plantações, música das esferas, como se as aplicações infinitas da música quisessem nos dizer algo. Nela encontramos, no coração da matéria, o vazio que é potencializado pela mente humana, segundo Schrödinger, no movimento simples de prestar atenção.

Uma vez entendido de que a música é capaz de mudar a realidade, o controle sobre a música, ainda que seja necessário reduzi-la a um produto chamado de entretenimento sonoro, é bastante desejável.

Gráfico

Pudemos perceber que o que ocorre na atualidade, é uma adaptação a uma onda de tecnologia e informação que deu espaço e alcançe a vozes antes inauditas. A música brasileira atual está sendo feita por uma massa artística menos capacitada musicalmente, que possui acesso a ferramentas musicais inimaginadas há 30 anos atrás. Tudo isso, aliado à demanda de atenção imediata, a grande commodity do século XXI, que o modus vivendi atual impõe, facilita a ascenção de artistas de nicho, o que num certo sentido é uma democratização e uma quebra de hegemonia dos intelectuais brasileiros.

Como este processo ainda está acontecendo, não é possível ter o necessário distanciamento crítico para uma avaliação de todos os impactos que essa era da informação traz. É possível, porém, alinhavar os temas expostos por Castro com a pergunta inicial de Lulu Santos, afinal, o sexo, a escatologia, a violência e os divertimentos considerados rasteiros possuem um efeito anestésico nas massas desde sempre, o que nos faz cogitar se existe outra intelligentsia ou máfia operando nos bastidores da glocalização (QUÉAU, 1989).

Entendemos que o caminho da não música tem sua data de expiração, pois para cada ação ocorre uma reação na mesma intensidade, ao contrário da boa música, que não possui data de validade. Novas gerações virão e a ‘granada e tabaca’ ficará no esquecimento, do mesmo modo que Salieri em relação a Mozart. A música demonstrou ser uma força muito poderosa para ser deixada de lado em função de um entretenimento vazio, recheado de sexo e violência.


REFERÊNCIAS

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BURKE, Peter. O Conceito de Anacronismo de Petrarca a Poussin. Revista de Ciências Sociais. Universidade de Cambridge, Cambridge, n. 39, Outubro de 2013, pp. 195-220.

CAETANO, Mariana Gomes. Beijinho no ombro para a crítica – um ensaio sobre a relação da crítica cultural com o funk carioca. II Encontro Brasileiro de Pesquisa em Cultura (EBPC), Universidade Federal Fluminense, Niteroi, 2014.

CALVO, Paco. The Philosophy of Plant Neurobiology: A Manifesto. Universidad de Murcia, Murcia, 2016.

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CAVALCANTI, Elmano Pontes. Revolção da Informação: Algumas Reflexões. Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 1, n. 1, 1995.

CLYNES, Manfred. Music, Mind and Brain – the neuropsychology of music. 1 ed. Plenum Press, Nova Yorque, 1982

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GASPARIN, J. L.; SILVA, Márcia Cristina Amaral da. A Segunda Revolução Industrial e suas influencias sobre a educação escolar brasileira. 2005, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, v. 1. p. 1-20, 2005.

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TOGNOLLI, Claudio Julio. Mídia, máfias e rock’n’roll: bastidores do jornalismo e outros segredos indispensáveis para estudantes, profissionais e leitores. 1ed.Editora do Bispo, São Paulo, 2007.

TREWAVAS, Anthony. Aspects of Plant Intelligence. Annals of Botany. Endinburgo, v. 92, p. 1-20, 2003.

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YONEDA, João S. Ressonância. Revista Ensino de Ciências. FUNBEC, IBECC, São Paulo, p.7, 1982.

ZIN, Rafael Balseiro. Os bastidores da Semana de Arte Moderna de 1922. Sindicato do Fisco do Estado de Sergipe. Aracaju, 2012. Disponível em: <https://www.sindifisco-se.org.br/leitura/836/home> Acesso em: 18 de outubro de 2018.


ANEXO A

O desenvolvimento das raízes após exposição sonora a musica indiana, clássica e rock. (RETALLACK, Dorothy L. The Sound of Music and Plants. 1 ed. De Vorss & Co., California,1973, p.25)

The Sound of Music and Plants.cdr

Figura 1

Foto: George Crouter, 1973

OBS: Este texto foi revisado em 26/08/2019. Para que o texto coubesse no formato de artigo científico, na ocasião da apresentação acadêmica, precisei mutilá-lo e descartar alguns pontos interessantes que considero enxertar no corpo futuramente.

Recuperando os Brasões da Fragata Constituição

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A F42, Fragata Constituição

Há alguns anos que realizo trabalhos artísticos para a Marinha do Brasil. Normalmente quadros de navios para presentear comandantes ao fim de um período de comando à frente de uma embarcação. Desta feita, fui abordado com a missão de restaurar os brasões de uma Fragata.

E lá fomos nós à base de Mocanguê na baía da Guanabara inspecionar o que seria a faina da vez. Chegando ao navio, encontramos as placas de metal no estado em que você pode conferir aqui abaixo.

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Um dos brasões da F42

Para quem não faz ideia, o brasão é a alma de um navio, contendo os símbolos que tratam dos elementos relativos ao seu batismo. No caso, a F42 carrega a carta da constituição em seu centro, defendida pela espada, que no caso representa a arma da força naval. Sempre em dupla, os brasões estão posicionados na chaminé do navio.

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O brasão boreste

Após a visita, aguardei que retirassem os brasões da chaminé e me chamasse para leva-lo para restauro. Foi necessário que o navio atracasse no Arsenal de Marinha para que pudessem retirar os brasões com um guindaste. Meu prazo era de 7 dias. Deu um calafrio mas fomos com tudo!

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Prontos para o transporte!

Com as peças em mãos, mãos à obra! 200 cm x 150 cm de puro metal cada! Material devidamente comprado, espátula à mão, retiramos o grosso das tintas e da oxidação. Após, lixamos as placas para nivelarmos as camadas anteriores.

Nota: O ideal era deixarmos a placa crua, retirarmos todas as camadas anteriores de tinta e trabalharmos uma base, refazendo todo o desenho após minucioso registro do desenho. O tempo de que dispúnhamos foi proibitivo neste caso, pois tínhamos apenas sete dias para as duas placas com um final de semana no meio e um feriado. 

Percebemos que havia pelo menos quatro camadas de tinta, além de uma de zarcão.

Usando esmalte à base d’água da Sherwin Williams, procuramos nos aproximar da belíssima pintura que havia no piso da F42, como você pode conferir aqui:

09.jpg

Essa coisa de alma do navio é levada a sério!

Obviamente que cada pigmento se comporta de uma determinada forma, de acordo com o suporte da pintura. Sobre um piso é uma coisa, em metal, outra, ou ainda madeira, alvenaria etc. Precisamos levar em conta a ação das intempéries e ainda, a inclemência da maresia sobre a vibração da cor e sobre o suporte. Com tudo isto em mente, saturei bastante as cores do Brasão, sabendo que elas iriam esmaecer e chegar no tom correto em um mês de exposição, no máximo.

13

Agora é esperar secar e passar as camadas de verniz.

Prontinho, pronto para embalar, transportar e içar!

Quero agradecer por ter chegado até aqui neste espaço despretensioso. Espero que tenha gostado. Posso  lhe dizer que foi um trabalho extremamente gratificante, principalmente por poder lidar diretamente com os símbolos nacionais em um momento tão delicado de nossa história. Certamente o patriotismo anda elevado aqui no peito do artista.

Os bastidores de uma obra: o retrato de X

Retrato de X

Retrato de X

Recentemente estive envolvido com a encomenda de um retrato. Não costumo fazer muita publicidade sobre esta área de atividade, mas desta vez todo o processo se deu de uma forma que achei interessante relatar aqui, desde o início até a sua conclusão. De certa forma algumas cordas íntimas foram tocadas, tanto do cliente quanto do artista, além de outras forças imponderáveis que envolvem a elaboração de um trabalho assim.

O cliente em questão, doravante chamado de C, é um conhecido de longa data. Amigo de minha família, dos que possuem muitas histórias compartilhadas, daquelas que ajudam a construir suas memórias enquanto sobre a terra.

Havendo o interesse em retratar sua esposa, falecida a um tempo relativamente curto, passei a ouvir sua história e as passagens envolvendo uma moléstia cruel que a acabou levando deste mundo.

Decidimos, após conversa, fazer a obra em pintura digital, levando em conta o tempo de execução e os custos envolvidos. O tamanho final seria de 60cmx40cm.

Foto enviada pelo cliente

Foto enviada pelo cliente

Isto posto, mãos à obra. Munido de uma foto, comecei o processo de limpeza da imagem, utilizando o Photoshop CS5 e imediatamente passei o background para o Corel Painter 5, utilizando uma caneta ótica da Wacom para “aguar” o fundo. O grande pintor Rubens dizia que pintar o fundo estimula a criação, preparando a mente para o que vem após. Gosto de passar algum tempo nesta etapa do processo,  que é aquele momento em que você não faz absolutamente nenhuma ideia do que o quadro será.

A cada etapa do processo, postava uma imagem no Whathzapp para e ele ia me devolvendo as impressões. Gosto de fazer isto para tentar desmistificar, ou mesmo clarear o processo de elaboração de um retrato.  Já faço isto há mais de vinte anos e não tenho obtido muito sucesso (risos), pois as pessoas que não possuem um contato mais íntimo com criação, não compreendem muito bem e acham estranho. Acredito, porém, que com a quantidade espantosa de videos de processos criativos postados atualmente pelos próprios artistas  isto vá melhorar com o tempo.

Percebo ainda uma ideia romântica a respeito de inspiração divina, quando sei que talento se reduz a 99% de transpiração e 1% de inspiração, parafraseando Thomas Edison.

Estando a obra em acordo com os desejos do cliente, seguimos à etapa de impressão. Fico feliz com a quantidade de materiais importados hoje no mercado, além das variadas técnicas de impressão. Obviamente que isto vai de acordo com o cliente e suas expectativas de gastos.

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Pedido feito!

Impressão concluída, seguimos para a etapa do moldureiro. Mais uma vez, de acordo com o cliente, procuramos adequar e redimensionar a obra, dando o destaque que ela merece. Neste caso foram duas molduras (uma sendo passepartout) e vidro anti-reflexivo. Dependendo da moldura escolhida, pode levar algum tempo, como foi o caso.

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Moldura pronta!

Até aí tudo bem. Segui as etapas de meu trabalho normal de sempre como procurei demonstrar aqui. Acontece que estava lidando com uma questão muito mais sutil: o preenchimento de uma lacuna sentimental e espiritual através da arte. Não costumo por em destaque estes assuntos, mas eles sempre são levados em conta por mim na realização de uma encomenda. Procurar sentir o cliente, além de uma observação psicológica e factual é comum. Tudo isto para perseguir suas expectativas.

O que me causou alegria e espanto, foi ter atingido plenamente estas expectativas. Knockout! Isto pode ser conferido na imagem abaixo.

De arrepiar, não?

De arrepiar, não?

Como diz Cazuza: nadando contra a corrente, só para exercitar. Nado contra a corrente, sou espartano quando o assunto é pintura. Espartano no cobrar, rígido comigo mesmo e todo ouvidos e sentidos para atingir os objetivos, da melhor maneira que me for possível. Esta satisfação não tem preço. Este lucro, dedico aos céus.

Styx – D´après Milano´s Inferno

Eu e meu amor pela obra de Dante, Depp e Doré. E é claro, Milano.

Eu e meu amor pela obra de Dante, Depp e Doré. E é claro, Milano.

Estou lançando pela MAW mais uma experiência em video. Na verdade trata-se de um lyric video para Styx, uma composição quase que 90% instrumental, o que me fez procurar algo que gerasse interesse no video em si.

Assista aqui ao video em Full HD

Compus Styx depois de assistir a um filme com Johnny Depp chamado o Brasil de Do Inferno (From Hell). Fiquei impressionado com a tradição de colocar duas moedas de prata sobre os olhos dos defuntos em favor de suas almas. Serviria como uma paga no além a Caronte, o barqueiro do rio Styx ou Estige. Imediatamente associei ao Caronte do delicioso filme Fúria de Titãs (o primeiro, é claro, com Sir Laurence Olivier como Zeus). A idéia de um barqueiro do Além que conduziria as almas para as outras margens do rio Styx para mim foi muito impactante. Já havia lido sobre este rio nas comics de Conan, o Bárbaro na infância, estudei a obra de Dante quando fiz Belas-Artes, principalmente por causa das gravuras de Gustave Doré, além dos mitos da história ocidental greco-romana.

Posso ainda citar como referência o livro O Abismo de R.A.Ranieri, que não deixa de ser uma versão moderna da obra A Divina Comédia de Dante Aligheri.

Por fim, consegui uma cópia restaurada da obra Inferno de Milano, de 1911. Era justamente o que faltava para fazer o lyric video: uma obra de domínio público. O filme em si é impressionante e aconselho a assistirem por inteiro. Tem outro timming, claro, outro tudo. Afinal, o cinema há mais de 100 anos atrás ainda era baseado muito nas composições pictóricas dos artistas neo clássicos. Mas as imagens são impressionantes.

O audio foi gravado no FK Studio em Niterói, contando com o extraterrestre Franklin Vilaça pilotando os controles, além de contribuir na bateria e baixo do track. Levei bases de teclado e guitarras gravados em casa mesmo, gravei mais algumas faixas de guitarra no estudio FK. Franklin sugeriu algumas alterações no tema de guitarra, simplificando-o.

Na verdade costumo levar a idéia pronta para Frank, gravando em casa a impressão que quero causar no aspecto final, como numa pintura ou filme mesmo. No meio queria criar aquele aspecto grandioso e abissal, das referencias literárias… Persegui sons de barcos, chuvas e praias, dentre outros.

Chamei Mayckell Santos para ajudar nos piantos das almas penadas, o grito antes do solo é dele, além do chorus. Achei o resultado excelente, além de ser muito divertido gravar com Mayckell.

Para os dois solos do final, contei com a colaboração do guitarrista Pedro Samp, um cara excelente e viajado que fez um trabalho magnífico com a guitarra nesta música. Lembro-me dele ter reclamado sobre o trecho a ser solado, algo a ver com a harmonia da base, bem power metal por sinal. Achei engraçado porque ficou maravilhoso o resultado final, abrindo uma outra janela pra música.

Queria dar um toque com cellos no final, amenizar um pouco o peso. Estávamos tocando na época com o tecladista Elias Alves e ficava admirado com timbres de samples que ele conseguia ao vivo. Além é claro de sua performance como músico, apesar de não ter o rock no sangue. Diferente de Pedro Samp, que teve carta branca para gravar o que quisesse, procurei conduzir Elias nos cellos do final. O cello tem a capacidade de vibrar direto no meu plexo cardíaco, e persegui esta nota no final, como algo querendo dizer que a história não acabou… Observem as notas finais de Elias, ele também captou isto.

Bem, Styx é isto aí, espero que curtam o som de quem já foi ao inferno e voltou para contar.

Júpiter Maçã e o Gênio Indomável

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Ainda de luto pela inesperada partida em 21 de dezembro último de Flávio Basso, mais conhecido como Júpiter Maçã, resolvi escrever algumas linhas sobre a obra deste cara que considero simplesmente genial. O tempo, implacável, cuidará de revelar a grandeza de seu trabalho.

Irei concentrar minhas impressões na obra que considero o ápice da fase madura de Maçã, seu último álbum de 2008 intitulado de Uma Tarde Na Fruteira. É bom lembrar que seu primeiro disco solo, A Sétima Efervescência, de 1997, foi considerado pela Rolling Stone um dos cem discos brasileiros mais importantes da História. Além das passagens de Flávio/Júpiter pelas bandas TNT e Cascavelletes, que já fazem parte da história do Rock Gaúcho e merecem um destaque à parte, quero deixar claro que estas fases não são o objetivo deste post, quem sabe um outro no futuro.

Afirmo sem sombra de dúvidas que Uma Tarde Na Fruteira é um dos grandes álbuns da música brasileira. É difícil classificá-lo em termos de gênero musical, assim como é difícil classificar o próprio Júpiter, seria como tentar reduzir o gênio para caber dentro da lâmpada mágica. Música Não Convencional Brasileira? Talvez,  mas irei enumerar aqui algumas das inumeráveis influências e fragrâncias do álbum.

Feito a ressalva, a viagem de Uma Tarde na Fruteira começa pelo título. Tudo em Júpiter parece possuir um significado consciente, ou seja, imputado pelo autor. Em uma entrevista, realizada para Rádio Armazém em fevereiro de 2015, Flávio dá as pistas para a origem do título de seu último álbum, uma certa entrevista feita por Mitchell Glazer a Roman Polanski, um dos ídolos de Basso, cujo trecho transcrevo abaixo.

Polanski não demora a voltar. Escolhe uma pera em uma fruteira e dá uma mordida suculenta. “É engraçado”, ele diz, pensativo. “Passei anos sem conseguir comer isto porque, desde a primeira mordida, eu já ficava com uma tremenda dor de estômago. Era coisa da minha infância. Durante a guerra, quando eu estava no país, não tinha nada para comer. Nós passávamos muita fome.” Ele examina a pera. “Tinha muita fruta, então a gente se empanturrava. Como nós éramos crianças impacientes, não esperávamos as peras verdes amadurecerem. Eu praticamente desenvolvi um tipo de alergia.”

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Esteticamente, as canções pertencem a outro tempo, remetendo a Lupicínio Rodrigues, Beatles, Syd Barrett, Tom Zé, passando por Caetano e Mutantes, com temperos modernistas, construtivistas e futuristas aqui e até um ou outro apelo renascentista ali.

Ninguém melhor que o próprio Júpiter para dizer a que veio logo na primeira faixa do álbum “Marchinha Psicótica de Dr. Soup” que inicia assim:

Antes de nada eu gostaria de explicar
Segue agora um mosaico de imagens mil
Chamado a marchinha psicótica de dr. Soup

Sim, um mosaico de imagens mil é uma ótima definição para começarmos.
Mais adiante ele profetiza os efeitos de sua própria genialidade:

Eu escrevi essa marchinha
Para tocar no carnaval
O milênio passaria e a marchinha seguiria
Sendo cult underground
Mas até 2020 seria revisitada
E virar hit nacional

Veja e ouça aqui a Marchinha

Seguindo ainda na fruteira, grandes somas de matéria sonora popesca (talvez o álbum mais pop de Júpiter), como nas deliciosas “Mademoiselle Marchand”, “Beatle George” e “Síndrome do Pânico” atravesando a gente com uma riquíssima gama de timbres, cores e texturas sonoras, que vem da psicodelia de Beatles 67, Floyd e Dylan, passando pelas nuances experimentais dos anos 70 como em “Violão de Aço” e “Casa da Mamãe”. Flávio Basso é consciente de seu próprio futurismo, de seu material para gostos exigentes, compreendedores das referências contidas nas faixas.

Mais além, “As Mesmas Coisas” (atentem ao sotaque), “Plataforma 6” e “Um Sorvete Com Vocês” são músicas mais intimistas e tocantes. Realmente de conduzir a emoção por paragens ao mesmo tempo cotidianas e atemporais. A letra de “Um Sorvete Com Vocês” possui um teor autobiográfico, triste e solitário. Realmente comovente, nos fazendo lembrar que Flavio Basso era também um grande letrista, com uma estética de não conformidade com o status quo do show business nacional.

Meu apartamentozinho em Santa Cecília
Cozinha pequena e pouca mobilia
Vizinho de Higienópolis melhor padaria

As coisas mudaram agora
Tocaram minha mobilia pra fora…

Ouça aqui “Um Sorvete Com Vocês”

A arte de Flávio é livre e libertadora. Afinal, rótulos, para quê? Como Gaston Bachelard dizia para “estarmos diante da imagem no instante da imagem”, podemos também ouvir tão somente a música, estarmos presentes para ela. O porém reside no fato da mediocridade musical das massas tornar insuportável a vida do gênio neste mundo. Flávio Basso/Júpiter Maçã, em sua irreverência, foi íntegro até o fim. Indomável.

Frazetta, o espelho adolescente.

Me senti um pouco órfão no dia 10 de maio último*. Um dos maiores desenhistas e ilustradores que já conheci veio a falecer vítima de um AVC aos 82 anos. Frank Frazetta era pintor, desenhista e ilustrador, além de influenciar com seu trabalho, gerações inteiras de profissionais e amantes da fantasia e da ficção científica.

Auto-retrato

Auto-retrato

Foi através da arte de Frazetta que conheci Tarzan e Conan, assim como inúmeros outros personagens que povoaram minha imaginação adolescente. Visitei outros planetas, explorei novas civilizações, conheci perigos, deusas e donzelas em perigo, tudo isto através de suas cores de sonhos, de suas cores astrais.

No universo psíquico de sua arte, o perigo está sempre à espreita e qualquer invigilância pode ser fatal, os monstros do nosso inconsciente se fazem presente, os fundos da psique tornam-se figuras assustadoras… É preciso coragem e heroísmo para passar pelos obstáculos da adolescência, pelo auto-conhecimento da própria sexualidade, desvendá-la, afirmá-la. Pântanos misteriosos com répteis assustadores, florestas com símios ferozes e verdugos cruéis, que representam as provas juvenis de inserção da personalidade no meio social. Como lidar com o instinto primal que brota no adolescente? Como encontrá-lo e dialogar com ele no mundo interior para onde ele se refugia, com tantas questões e medos? Ao seu público, seu trabalho cumpria o papel do escudo de Perseu, que especularmente revela, através das imagens, as faces de nossos monstros que começam a apontar suas cabeças.

Iremos abatê-los como fazem os personagens de suas sagas antediluvianas, titânicas? Assim, como os heróis retratados em sua arte,  o braço nunca descansa, pois semelhante a Hydra, a cada golpe desferido sobre uma cabeça, outras surgem…

O mundo primitivo de Frank Frazetta.

O mundo primitivo de Frank Frazetta.

É sabido que cada um de nós contém um Dr. Jekyll e um Mr. Hyde: uma persona agradável para o uso cotidiano e um eu oculto e noturnal que permanece amordaçado a maior parte do tempo. Emoções e comportamentos negativos – raiva, inveja, vergonha falsidade, ressentimento, lascívia, cobiça, tendências suicidas e homicidas – ficam escondidos logo abaixo da superfície, mascarados pelo nosso eu mais apropriado às conveniências da sociedade. Em seu conjunto, são conhecidos na psicologia como a sombra pessoal e continua a ser um território indomado e inexplorado para a maioria de nós.

Frazetta e suas fêmeas mais que fatais!

Frazetta e suas fêmeas mais que fatais!

No caso de Frazetta, é neste território, neste mar revolto e incerto que sua temática situa-se, numa das paginas mais complexas da psicologia humana, a que contem a sexualidade e a ferocidade. Conhece-la, para mim, foi e é um aprendizado.

Descanse em paz, Frank.

Os heróis do submundo das emoções.

Os heróis do submundo das emoções.

*este artigo foi escrito em 2010 e publicado originalmente na versão impressa do Jornal Pôr do Sol.

Galactic Tales: The Legend of Captain Pollen

Para contar como começou a saga de Galactic Tales: The Legend of Captain Pollen, é preciso subir as escadas, ir ao sótão, limpar o pó, tirar o mofo e voltar aos meus tempos de EBA, ou melhor, Escola de Belas Artes da UFRJ. Naquele tempo, nos idos de 1990, conheci uma galera muito louca que viria a ter relevância no cenário pop/artístico carioca e era composta basicamente por Helio Ribera, MAGO, Johnny Theobaldo e Clementino de Jesus. Ah, havia também o Guilherme Briggs, Renato “Mosh” Lima , mas isto é uma outra história. Fiquemos somente com o rock, por ora.

Turma do Sion de 1987

Fase pré EBA. Sou o cabeludo à direita!

No trote fui inserido no universo da Festa do Baco, uma tradicional festa dos calouros da EBA. Nas festas do Baco, a criatividade, as fantasias e o rock´n´roll, rolavam solto! Ah, álcool, sexo e drogas também. Não digo que estava exatamente inserido nestes estes três últimos itens, pois sempre fui tímido e de mal jeito com as meninas, tinha pouca tolerância a alcool e a única droga que consumia minha cabeça se chamava TES: Templo Espiritualista Shriwananda (quem viveu, sabe do que estou falando!). Só bem mais tarde que fui saber que eu era um certo tipo de nerd, mas na ocasião só sabia que me sentia bem deslocado do mundo, sob muitos aspectos. Creio que isto contribuiu muito para todo o processo criativo. Pois bem, formamos algumas bandas logo após a festa onde sofri minha iniciação,  como a Sweet Novel, Wild Sex Machine, Jinx, Wilbor, sempre pautados no rock inglês e, do outro lado do Atlântico,  sofríamos influências de Faith No More, Metallica e Red Hot, bandas em evidência no período.

Turma do Trote de 91

Criativamente, me aproximei bastante do Helio e do Johnny e compúnhamos em parceria as músicas que iríamos tocar nos ensaios, nas festas e em shows como na Praia da Bica, Garage Art Cult, Teatro de Lona da Barra, Circo Voador e Casa de Cultura Estacio de Sá. A veia musical do Hélio Ribera vinha muito do rock inglês: David Bowie, Stones, Siouxsie & The Banshees, The Cure, The Mission, The Cult, dentre outros. Assim, mais precisamente do universo de Bowie e sua fase Glam Rock, da psicodelia temática de Space Oddity veio a inspiração para o nome Diamond Cosmic Pollen. Helio nos brindou com o tema, ainda que num inglês fajuto, algo que mantenho até hoje. Tendo o título, fui em frente! Na época do Wilbor, compus num ato empírico a música Diamond Cosmic Pollen, inicialmente em português, pois apesar do nome, Wilbor só tinha canções em português.

Capa do CD do Jinx

Aqui dá pra observar bem a parceria Mutran/Ribera. Temos ainda contribuições do Johnny e a arte de capa do Renato Lima.

Na composição da letra de Diamond, conceitualmente Space Oddity do Bowie foi a primeira referência.  Ela começa com uma pergunta: “Could I tell you an amazing story?” Provocar a imaginação do ouvinte é o interesse do bardo/narrador. É como se remontássemos ao passado, como se passássemos de vilarejo em vilarejo narrando contos fantásticos para entreter a população. Antigamente estes bardos e contadores de estórias realmente levavam a imaginação dos pobres vassalos e camponeses, homens da terra, para longe. O filme A Viagem do Capitão Tornado aborda o tema.

Na harmonia da música, para o temas de guitarra havia pensado inicialmente nas guitarras de Sargent Peppers dos Beatles. Achava o tema da música dos Beatles muito simples e de impacto e quis emular aquele som.  A base para este tema é um loop básico, como Nirvana, E, G e A, tocados com afinação baixa, à moda Hendrix. Já as bases para as estrofes são funkeadas com um teclado ambiente ao fundo e a harmonia é a mesma da introdução. O refrão é feito sobre uma escala descendente, bem típica de Hard Rock e com overdubs de vocais. A despeito do refrão, a parte que mais me encanta nesta canção é quando o narrador fala diretamente ao futuro Pollen, ao ouvinte. Quis proporcionar um lirismo ao momento, como um instante mágico onde as transformações acontecem, único na música. Muitos autores comentam sobre a importancia do middle eight numa música, ou bridge.  Na verdade, usei um middle sixteen, ou seja, o tempo da ponte duplicado para criar um efeito mais pungente e imersivo.

“You can call Mr. Pollen in the night

With your mind, with your heart, with your soul

You´re a man, can´t deny your destiny

The space was made for you and me.” 

Logo após, voltamos à base de abertura com um solo que permanece grande parte apenas na corda E. Neste início do solo, estou munido dos hammers on, cada vez mais me aproximando da ponte da guitarra, simulando a adrenalina de combater o mal da galáxia dentro de uma nave espacial. O final do solo é claramente influenciado pelo Maiden.

Após o solo segue mais uma vez o refrão e após este, os gritos de batalha e encorajamento ao jovem Pollen debutante. Ouvimos sons de lasers, explosões até que chegamos  ao final apoteótico. Vale dizer que esta parte final é uma clara referência a Flash Gordon do Queen e Dino de Laurentiis.

Official Fanpage

Ouça agora Galactic Tales!

Compor e tocar e interpretar Galactic Tales: The Legend of Captain Pollen foi uma experiência muito gratificante e feliz. Apesar de seu primeiro registro caseiro contar com mais de 15 anos, no fundo GTTLOCP é um passeio dentro do universo de algumas referências musicais pessoais, além de uma homenagem sincera aos meus heróis do rock.

Porém, como toda saga tem vários capítulos, em breve estaremos voltando ao estúdio para mais alguns retoques no audio, a fim de adequarmos melhor o som ao videoclipe que está sendo produzido neste momento.

Mas isto é outra história!

Oriente-se – ou como o príncipe das mil e uma noites virou sapo

ou como o príncipe das mil e uma noites virou sapo!

Um dos monstros maravilhosos do mestre Harryhausen de Sinbad e o Olho do Tigre.

Na minha infância, os filmes de aventura passados no médio oriente eram sinônimos de exotismo, magia, sabedoria e bravura. Refiro-me aos filmes de sessão da tarde como Sinbad e o Olho Do Tigre (1977) com animações deliciosas do mestre Ray Harryhausen, As Mil e Uma Noites (1945), com Cornel Wilde, onde havia um gênio extremamente atrapalhado que usava óculos-fundo-de-garrafa. Hilário! Alá sempre me pareceu sábio e misericordioso nesses filmes, recompensando o destino dos valentes e bravos como no Fabuloso Ladrão de Bagdá (1979) com Peter Ustinov, Roddy McDowall e o eterno Terence General Zod Stamp. Ao final da exibição, havia uma sensação boa de ter experimentado um oriente místico com direito a incenso de sândalo e mirra. Lembranças perfumadas e inocentes…

Terence Stamp

Stamp, o maravilhoso vilão do Fabuloso Ladrão de Bagdad

Saltemos agora das memórias de Cinemascope em Technicolor para uma das manchetes das últimas semanas:

O site de vídeos do Google, o YouTube, bloqueou o acesso a um filme que faz piada de Maomé em alguns países muçulmanos… O filme “A Inocência dos Muçulmanos” não é apenas amador. Produção amadora pode ser inteligente, perspicaz. O acabamento às vezes não é perfeito, mas tem horas que apresenta algo de novo, de engraçado, ou mesmo uma ideia que vale discutir.

Por falar em acabamento, o recente doutrinador em forma de filme “E a Vida Continua” não tem lá os melhores acabamentos do mundo, certo? Foi banido também?

Agora, por falar em idéias, apesar da política do You Tube ser clara permitindo retirar do ar o que quiser, estabelecer suas próprias regras e tals, percebo hoje que existe uma censura atuante e de alcance global no mundo. Um filme amador foi feito falando da vida de Maomé e o mundo veio abaixo. Acaso já não foi feito filmes que apresentaram varias versões para o profeta máximo do cristianismo, Jesus de Nazaré? Jesus para muitos é Deus e, no entanto as reações foram muito mais civilizadas para “A Última Tentação de Cristo”, um livro grego que se transformou num filmaço em 1988 com Willem Dafoe e Harvey Keitel e mostrava uma última tentação de Jesus sofrida no alto da cruz: uma vida de homem! Para quem ainda desconhece, o cristianismo nasceu com dezenas de versões de evangelhos que proliferaram até o século III d.C. Havia o Evangelho de Pedro, de Judas, de Maria, de Madalena… Ao todo deviam existir entre quarenta a setenta evangelhos diferentes (os estudiosos divergem a respeito). A história e os interesses de alguns os reduziram a quatro.

Alguém já se perguntou sobre o que falavam as outras dezenas destruídas? Em comparação, teria cada um de nós só uma pequena faceta em sua personalidade? Somos algum tipo de ser unicelular mental/emocional? Quantos milhares de pensamentos e sentimentos passam por nós num único dia, guiando nossas ações e palavras? Dependendo do QI, a ordem seria de dezenas, centenas de milhares, milhões?

As mil e uma noites - 1945

Olha o gênio atrapalhado de turbante verde ali! Delicioso filme pipoca de QI zero e muitas risadas.

Pois bem, se cada uma das dezenas de narrativas evangélicas existentes até o século III retratasse um Jesus diferente, posto um olhar diferente, da mesma forma que um parente, amigo, colega ou inimigo nos vê, teríamos muito mais material escrito para comparar e possivelmente traçaríamos o retrato de um Jesus infinitamente mais rico e humano. Mas acho que lá no fundo todos sabem que o problema está justamente nesta palavrinha… o diabo do humano! Ah, preferimos muito mais os ídolos para fazermos guerra com eles.

Mas voltando ao retrato, pense bem, não haverá um único consenso entre seus amigos, familiares, colegas e até mesmo inimigos sobre você? Pensou? Pois é, além de todas as discordâncias, este consenso é o que o define como personalidade! Imagine se o livro sobre sua vida fosse publicado apenas na versão do seu parente? Ou de seu inimigo? Ou do seu amante? Possivelmente só teríamos uma parte sua descrita alí.

Isto é reducionismo.

Por que afinal não podemos falar, escrever, filmar sobre Muhammad (Maomé) sem que haja violência e morte? É apenas um filme que procura retratar uma outra faceta! No quesito tolerância a filmes, a Igreja Católica Apostólica Romana está ganhando de lavada. Ao menos no século XXI.

Quanto ao mundo, este segue recuando diante da demonstração de violência. À semelhança da ascensão dos Nazi na Alemanha de 1933, a força dos brutos prevalece mais uma vez e oprime as vozes da diversidade. Mais mortes, mais livros (DVDs?) queimados, mais perseguição a autores e cineastas! “Viva Deus! Deus é o Maior! Não há ninguém maior do que Deus e seu profeta Maomé!” Alguém aí pensou em Adolf Hitler? Qual a diferença afinal? A maldita fé cega?

Se Deus criou homem e mulher, nós, por exemplo, criamos o homossexualismo! Está claro que é isto o que a vida quer: diversidade, pluralidade. Na forma, nos pensamentos, nas expressões, nas sensações, na espiritualização, nas ações etc. Aí está a beleza e a graça! Acaso o céu não é feito de beleza e graça? Ok, você pode pensar “mas o homem é feito de totalitarismos”, ainda que este totalitarismo seja o neoliberalismo. Tal desejo de controle incontrolável oriundo dos poderosos, mas que existe sim em nós também vem do medo. Medo do diferente, do outro, do preto, do branco, do judeu, do cristão, da mulher, do homem, do que fala uma língua diferente, do aleijado, do bonito, do feio, de viver, de morrer, medo do árabe… Seja ele islâmico ou não. Afinal, segundo o mais recente filme de Sacha Baron Cohen “O Ditador”, todos que não moram nos EUA são árabes!

Carl Sagan e a missão Viking

Adoro esse cara! Ficava grudadinho diante da TV de tubo assistindo a Cosmos. Depois, é claro, devorei o livro!

Aprendi com Carl Sagan que pluralidade é sinônimo de riqueza e quero lembrar aqui que o Criador de todas as coisas é um pluralista nato. Veja! Zilhões de mundos por aí, galáxias, vida, universos paralelos, milhões de versões de você espalhadas nos infinitos instantes, cada uma tomando decisões ligeiramente diferentes da sua! É o Cosmos que pulsa. Pode senti-lo agora?

Aprendi com Buda que todos somos Buda e que cada um se iluminará de uma maneira própria, singular, particular a seu devido tempo. Basta de Gautama! Nem ele aguenta mais. Queremos e precisamos muito de José Buda, de Silva Buda, Maria Buda, Você Buda!

Aprendi também com Lao Tse que toda rigidez é morte, portanto aconselho à todos uma saidinha para passarmos cinco minutinhos naquelas cadeiras de massagem no shopping mais próximo. É uma delícia das arábias.

Ah, cuidado com o cóccix!

O Caminho da Intimidade

Lâmina para o livro O Caminho da Intimidade
Lâmina para o livro O Caminho da Intimidade

Sobre as lâminas

 Trabalhar nas imagens de Khajuraho para o Caminho da Intimidade foi como voltar a um lugar conhecido. Quando voltamos a um lugar que já visitamos antes, atentamos aos detalhes que não havíamos percebido. Assim, algumas sensações perdem um pouco do brilho e da empolgação inicial, o que é natural, enquanto que outras ressurgem demonstrando seu real valor.

Já conhecia algumas imagens, mas pesquisar mais fundo me fez conhecer outras ainda mais fascinantes. Em dado momento, procurei suporte nos textos do livro, noutros, no som da cítara indiana. Desta pesquisa, veio a ideia das palavras em sânscrito como um adorno às imagens, notas musicais desta escrita atávica.

Finalmete, alguns filtros e a própria imagem em negativo ao fundo para fechar a gestalt, o circulo, o Tao.

Para saber mais sobre o Caminho da Intimidade

Design de Som

criando sons para o game

Criando sons para o game: uma aventura à cata de tudo que faça barulho

Está no ar um trabalho que fiz junto a equipe do The Social Games. Há anos que faço trilhas sonoras por diversão e aprendizado e agora, trabalhando com video, crio animaçoes para essas trilhas e cançoes..

Estreei profissionalmente neste campo trabalhando com o design,  elaboração e a execução dos sons do Social Poker, um jogo de poker para web, o texas hold´em. Muito mais complexo do que uma música de 3 minutos(dessas que ouvimos no radio), um som que dura meio segundo, até 2 segundos às vezes, precisa de uma alta dose de carga emocional.

Enquanto que numa música pop podemos construindo devagar o conteúdo emocional, num som de jogo isto não é possível. O som de abertura do game foi o mais prazerozo e musical , pois era um teminha classudo, amadeirado.

Um outro ponto interessante é que os sons foram obtidos e experimentados desde sacos de cimento sendo arrastados até o som da corrente de uma bike. Um som interessante foi do da carta sendo lançada pela mesa: vibrei-a no ar várias vezes, pois neste caso, o que valia era o som do deslocamento do ar. Confesso que fiquei meio paranóico essas duas semanas, mas valeu a pena. Rsrs

Segundo a empresa, um novo game vem aí, agora é pegar o projeto nascendo.

Aguardemos.

Enquanto isso, quando estiverem de saco cheio do trampo e quiserem dar uma fugidinha, vale a pena conferir os sons e o game.